Governança On-Chain, Governança na Cadeia (On-Chain Governance)

"A governança on-chain, ou governança na cadeia, é um sistema emergente que permite tomar decisões de forma transparente e democrática em redes descentralizadas. Nesse sistema, as regras para instituir mudanças são codificadas no protocolo blockchain, permitindo que todos os participantes votem e tenham uma voz no processo. Isso promove a transparência e evita manipulação."

A Governança On-chain, ou Governança na Cadeia, é um conceito fascinante e emergente que tem o potencial de revolucionar como as decisões são tomadas em redes descentralizadas. Este sistema de governança permite a criação e implementação de mudanças na blockchain de uma forma que é inerentemente transparente, auditável e, mais importante, democrática.

Governança on-chain é um sistema no qual as regras para instituir mudanças estão codificadas no protocolo blockchain. Isso permite que alterações no protocolo, como a adição de novas funcionalidades, atualizações de segurança ou mudanças nas regras de consenso, sejam feitas de forma transparente e democrática. Em essência, a governança on-chain é uma maneira de automatizar o processo de tomada de decisões em uma rede descentralizada, permitindo que todos os participantes da rede tenham uma voz no processo.

Os sistemas de governança on-chain funcionam de maneira simples e direta. Desenvolvedores propõem mudanças por meio de atualizações de código, e cada nó na rede tem a chance de votar se aceita ou rejeita a alteração proposta. Isso ocorre on-line e é incorporado diretamente no código da blockchain. Se a alteração for aceita pela maioria dos nós, ela será incorporada na blockchain e implementada.

Os sistemas de governança on-chain têm várias vantagens significativas. A mais óbvia é a transparência. Como tudo ocorre on-line e é registrado na blockchain, todas as decisões são completamente transparentes e auditáveis. Não há chance de manipulação ou interferência, pois todas as votações são registradas publicamente na blockchain.

Além disso, a governança on-chain é intrinsecamente democrática. Cada nó na rede tem a oportunidade de votar em qualquer mudança proposta. Isso significa que todos os participantes da rede têm uma voz no processo de tomada de decisão. Isso é muito diferente de muitos sistemas de governança centralizados, onde as decisões são tomadas por um pequeno grupo de indivíduos ou entidades.

No entanto, a governança on-chain também apresenta alguns desafios. Um dos mais notáveis é o problema do "comprador passivo". Em muitas redes descentralizadas, como blockchains públicas, qualquer nó pode participar da governança, mas nem todos os nós exercem ativamente esse direito. Isso pode resultar em uma concentração de poder nas mãos de um pequeno número de participantes ativos, que têm uma influência desproporcional sobre as decisões tomadas. Essa concentração de poder pode ser problemática porque vai contra os princípios de descentralização e igualdade de participação.

Outro desafio é a possibilidade de bifurcações ou "forks". Se uma proposta de mudança não é aceita por todos os nós, pode resultar em uma bifurcação da rede, criando duas versões diferentes do mesmo protocolo. Isso pode causar uma grande quantidade de incerteza e instabilidade na rede por vários motivos. Primeiro, a comunidade pode se dividir entre as diferentes versões da rede, o que pode levar a disputas e conflitos. Além disso, as bifurcações podem afetar a interoperabilidade entre as diferentes versões da rede, dificultando a comunicação e a transferência de valor entre elas.

É importante também destacar a abordagem de Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs). Uma DAO é um sistema de governança autônomo que opera na blockchain e é governada por um conjunto de regras codificadas. As decisões em uma DAO são tomadas por meio de votação dos detentores de tokens ou acionistas, e as transações são executadas automaticamente de acordo com o código estabelecido.

As DAOs permitem a governança descentralizada e transparente, com participação direta dos detentores de tokens ou membros da comunidade. Elas podem ser usadas para uma variedade de finalidades, desde governança de protocolos até a gestão de fundos e tomada de decisões coletivas em projetos descentralizados.

Um exemplo notável de uma DAO é a The DAO, que foi lançada em 2016 na blockchain Ethereum. A The DAO era uma organização descentralizada que arrecadava fundos por meio de uma venda coletiva de tokens e permitia que os detentores de tokens votassem em projetos de investimento. No entanto, a The DAO enfrentou um incidente de segurança que levou a uma bifurcação na rede Ethereum e ao posterior encerramento da organização.

Desde então, houve um avanço significativo no desenvolvimento de frameworks e plataformas para DAOs, com projetos como Aragon, DAOstack e MolochDAO oferecendo soluções para facilitar a criação e governança de DAOs.

As DAOs são um exemplo poderoso de governança on-chain, pois permitem que as decisões sejam tomadas de forma transparente e descentralizada, com uma clara representação dos interesses dos detentores de tokens. No entanto, assim como em outros sistemas de governança on-chain, a participação ativa e a distribuição equitativa do poder ainda são desafios a serem enfrentados para garantir a eficácia e a legitimidade das decisões tomadas pelas DAOs.

Um exemplo notável de um sistema de governança on-chain é o usado pela rede Tezos. O sistema de governança da rede Tezos é conhecido como "governança líquida" (liquid governance). Esse termo refere-se ao processo de tomada de decisões descentralizadas que ocorre na blockchain Tezos, permitindo que os detentores de tokens participem ativamente por meio de votações e propostas de emendas.

Outro exemplo é a rede Decred, que também usa um sistema de governança on-chain, chamado Politeia. A Decred utiliza um modelo híbrido de Prova de Participação e Prova de Trabalho, e os detentores de tokens podem votar em propostas de mudanças no protocolo. Isso permite que a rede se mantenha flexível e adaptável às mudanças nas condições do mercado e às necessidades da comunidade.

Já a rede Cosmos possui um sistema de governança on-chain chamado "Cosmos Hub". O Cosmos Hub é a principal zona da rede Cosmos e atua como um ponto de conexão para outras blockchains, conhecidas como "zonas". No Cosmos Hub, os detentores de tokens ATOM têm a capacidade de votar em propostas de governança que afetam não apenas o Cosmos Hub em si, mas também outras zonas conectadas à rede Cosmos. Essas propostas podem abranger diversas questões, desde atualizações do protocolo até a integração de novas zonas

No geral, esses exemplos ilustram como a governança on-chain pode ser uma abordagem eficaz para redes descentralizadas. Ao permitir que os participantes tomem decisões diretamente na blockchain, esses sistemas de governança promovem transparência, participação e adaptabilidade.

Vale mencionar que a governança on-chain não é a solução única para todos os desafios de governança, e pode haver casos em que abordagens off-chain também sejam necessárias. No entanto, quando implementada corretamente, a governança on-chain pode fornecer uma base sólida para a evolução e adaptabilidade das redes descentralizadas, permitindo que elas se ajustem de forma eficaz às necessidades e preferências da comunidade.

O futuro da governança on-chain parece promissor, mas também cheio de desafios. À medida que continuamos a explorar o potencial dessa abordagem para a tomada de decisões, será importante aprender com as experiências passadas e trabalhar para superar os obstáculos que surgem no caminho. Com a devida atenção e esforço, a governança on-chain tem o potencial para desempenhar um papel central na forma como as redes descentralizadas são geridas no futuro.

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